Quarta-feira, 15 de Março de 2006

Portugal: Um modelo para o futuro?

Atenção - esta posta utiliza termos que podem não ser entendidos pelo comum leitor. Se for parvo, diminuido mental, ou simplesmente estúpido, não leia. Este aviso é, obviamente para o seu vizinho, e não para si, inteligentíssimo leitor.


Como será talvez do conhecimento dos meus leitores, a pataeconometria é uma das diversas disciplinas em que se divide a patafísica, e é também uma sub-disciplina da pataeconomia. Pode ser descrita como a disciplina que utiliza os métodos da patafísica para medir os indicadores pataeconómicos. Nesta posta, irei utilizar vários indicadores pataeconómicos para criar um indicador composto (indicador formado matematicamente por uma fórmula de vários outros), que mostrará qual o nível de desenvolvimento de um país.


Em primeiro lugar, antes de procurar a resposta - ou seja, quão desenvolvido é um país - é preciso saber a pergunta - o que é desenvolvimento? O que é que podemos entender por desenvolvimento? Esta é a questão que mais se tem colocado aos economistas nos últimos 50 anos, sem se ter ainda uma resposta concreta, apesar das torres de livros já escritas sobre o assunto. A primeira e mais simplista resposta dos economistas para a pergunta foi "É ter dinheiro". Mas se isto se ficasse por aqui, uma série de economistas ficavam sem livros para escrever, e logo uma série de bloquistas veio levantar a questão: "Os árabes têm dinheiro e dão porrada na mulher - são subdesenvolvidos (isto foi na altura em que não ficava mal dizer “subdesenvolvido”, nem falar mal dos árabes, mas dar porrada na mulher já era fatelo)". Então inventaram os índices compostos. Ninguém convence um economista de que o dinheiro não importa, mas aqueles bloquistas que trabalham na O.N.U., por exemplo, parece que criaram um indicador de desenvolvimento que ia finalmente trazer justiça ao mundo, e por no topo países como a Suécia, ou o Canadá. Depois, uma série de economistas criaram novos índices, ou só para vender livros, ou só porque trabalhavam para uma agência que lhes pagava para isso, ou para por os E.U.A. no top da lista (o que é uma das profissões mais bem pagas do mundo, porque uma das mais difíceis...). Felizmente os pataeconomistas são mais inteligentes. Fora da economia, e mesmo na fronteira da economia, penso que não chocaria ninguém ao dizer que "desenvolvimento é qualidade de vida". Mas a grande questão, que se coloca à pataeconometria é, como medir essa qualidade de vida? Vejamos então.


 


Falemos do primeiro indicador. Em pataeconomia, chama-se mCMpc, ou metros de Costa Marítima per capita. Toda a gente sabe que a malta gosta de viver junto ao mar. Isso, porque aumenta a qualidade de vida. Para começar, porque o ar marítimo, dizem, faz bem. Depois é o clima, que toda a gente sabe que lá no interior faz um frio de rachar no Inverno e que se abafa no Verão. Por essas e por outras é que o êxodo rural está na moda desde o tempo dos Descobrimentos. E como prova final e irredutível de que o pessoal gosta de costa, basta ver os lisboetas todos a infestar a costa algarvia todos os anos, isto já para não falar da Caparica... Então, este indicador mede-se simplesmente dividindo o nº de metros de costa que o país em causa tem, pelo nº de habitantes. Claro que poderiamos também ponderar este indicador por tipo de costa, pois sabemos bem que o bem-estar proporcionado pelas areias doiradas de uma praia como a nossa Carcavelos, não é o mesmo que aquele que se tira dos fjords noruegueses.


 


O segundo indicador é um a que em pataeconomia chamamos hSmCCA, ou horas de Sol médias por Caixa Córnea por Ano. Este é um indicador com o qual se deve trabalhar delicadamente. Por horas de Sol médias, entende-se o número de horas anual em que o sol não está encoberto. Mas o facto de o indicador ser ponderado “por caixa córnea” (ou “armação deles”, se o leitor preferir), torna-o mais sensível. O número médio nacional é um mau aproximador. Uma média das médias de cada distrito, ponderada pelo número de habitantes é melhor. Melhor ainda, por conselho, ou freguesia, atingindo uma enorme sensibilidade. Significa isto que assim, tomamos em conta que quando pode estar a fazer sol no Algarve, e a chover no Porto. O que acontece frequentemente. Quanto a este indicador tenho apenas que acrescentar que o nº de suicídios é maior no Inverno, quando há menos sol, e nos países nórdicos, idem. Não, não é isso que queria dizer. Apesar de haver mais suicídios, e de portanto diminuir assim o número de chatos deprimidos a foder-nos os cornos, está cientificamente provado que quando está sol o povo anda mais satisfeito. Quanto a isto, sendo eu a maior autoridade no assunto, penso ser inútil referir qualquer outra fonte.


 


O terceiro indicador, é denominado de DFN, o Dulce Fare Niente. Este é talvez o indicador de bem-estar mais importante dos últimos anos. Dos últimos 1500, pelo menos. Trata-se de ter tempo livre. Mas é ainda mais que isso. Trata-se aqui de saber ter tempo livre. Ou, por outras palavras, ter esse tempo livre, mantendo a qualidade de vida de quem lhe dá no duro (ou ainda mais alta, o que é mais frequente). Na Idade Média era fácil, a não ser que se nascesse numa família do povo. Agora temos o capitalismo, imperialismo, e welfare state, o que permite várias formas de o atingir. O corte de cupões é um deles (rendimento sobre um investimento de capital, feito pelo próprio ou mais frequentemente, herdado), o segundo é fugir ao trabalho assalariado (por métodos tão variados e imaginativos, que até eu - um especialista qualificado - não os conheço todos), e o terceiro são transferências e subsídios do estado. No fundo, e para resumir uma longa história, DFN=RT-hTT, onde RT é o Rendimento Total do consumidor, e hTT são as horas de Trabalho Totais, ambos, obviamente, medidos no mesmo período e tempo (médio por semana, por mês, ou por ano). Atenção ao medir o indicador hTT: devem ser incluído certo tipo de horas não pagas, mas apenas certo tipo - aquelas que podemos definir como Tt, ou Trabalho para o trabalhador. Quer isto dizer, não que o trabalhador está a trabalhar para si, mas que falamos trabalho pela sua própria definição - a de que está a fazer algo que preferiria não estar a fazer. Normalmente, incluem-se nesta categoria, limpar a casa, lavar a loiça e ir buscar os putos ao colégio. Normalmente não se incluem hobbies, como jardinagem, tuning, sexo e manter blógues com postas patetas.


 


E os meus leitores podem dizer que a minha teorização é bastante interessante, mas não passa de isso: apenas teorização. Errado. Baseio-me em fortes dados empíricos, que provam incontestavelmente que populações cujos indicadores referidos são mais altos, têm uma qualidade de vida superior. Vejamos a selecção de indicadores sociais da OCDE (http://www.ocde.org). Se prestarmos atenção ao indicador CO6, suícidios, vemos uma correlação fortíssima. Na Europa, os países com menor taxa de suícidio são os países do sul e aqueles com uma grande taxa costa/habitante, como a Itália, Grécia, Portugal, Espanha, ou Reino Unido. Se passarmos à América do Norte, no México confrontamo-nos com um fenómeno interessante: a relativamente alta taxa de suícidios entre crianças e jovens, quase tão alta como entre adultos (que é ainda assim a segunda mais baixa da OCDE, devido não só ao facto de o México ser um país solarengo, mas concerteza também às longas siestas a que os locais se dedicam religiosamente). Isto explica-se com o facto de o trabalho infantil ser provavelmente ainda corrente neste país. Também, e introduzindo um factor aleatório, e não pataeconómico (que por isso não consideraremos para o nosso modelo geral), as crianças mexicanas levam porrada todos os dias, e duas vezes aos Domingos (que, como se sabe, é dia de catequese), e talvez seja isso que contribua para elevar a sua taxa de suicídios.


Quanto à nossa faixa de terra à beira mar plantada, a primeira conclusão que podemos tirar sobre ela é precisamente essa: que está à beira-mar plantada. Temos de factum um dos países com mais longa costa marítima per capita. As nossas longas faixas de areia dourada, atraem anualmente milhares de lisboetas, nortenhos, mas também bifes de todos os cantos da Europa. Mas eles não vêem só pela costa. Temos um dos países com mais horas de sol da Europa. E so o norte de Portugal não é tão luminoso como o sul, está melhor que grande parte da Europa. E por outro lado, o Algarve e o Alentejo têm tanta luz solar, que estamos agora a desenvolver um projecto para a exportar para o Norte. Relativamente ao último indicador, o DFN, penso que não terei muito a dizer sobre a superioridade (histórica, até…) do nosso povo. Explorar os pretos nas colónias, explorar os pretos imigrantes, explorar os ucranianos e brasileiros, explorar os fundos estruturais, pontes, rendimento mínimo, fundo de desemprego… Enfim…


Não quero com isto afirmar que Portugal é o país mais desenvolvido do mundo. Tenho a certeza que a polinésia, por exemplo, tem pontuação mais elevada em todos os três índices. Queria apenas mostrar aqueles pessimistas que vêem o nosso país de uma forma negativa e derrotista, que estamos no rupo da frente dos países desenvolvidos.


Mas como sabemos que este modelo é representativo da realidade? Olhemos dois exemplos empíricos: as nossas colónias na Madeira e nos Açores. Será preciso um longo estudo para determinar quão altos são os indicadores referidos em cada uma delas, em especial o DFN, pois a imaginação deste vosso pataphisico não chega para fazer uma estimativa. E não são os habitantes destas belas ilhas uns grandes patetas alegres?

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Segunda-feira, 13 de Março de 2006

Jogos Olímpicos de Inverno - Torino 2006

Tendo finalmente terminado mais uma edição dos Jogos Olímpicos de Inverno, este vosso repórter desportivo on the spot vem fazer o rescaldo a que tem habituado os seus leitores. O honroso português, o Danny Silva, tinha como objectivo não ficar em último na modalidade em que participava, os 15 Km de Esqui de Fundo. Desde já dou os meus parabéns ao Danny pelo seu 4º lugar a contar do fim. Mas nem sequer é para vos falar de Esqui de Fundo que aqui venho hoje, até porque o esqui, a comparar com outras modalidades, é algo secundário, nestes Jogos Olímpicos.


Não, eu venho aqui falar-vos de outro desporto. Daquele que é conhecido como o Desporto de Inverno Rei. A petanca sobre o gelo. Um desporto impróprio para cardíacos, epilépticos, ou diabéticos. Cada disputa, é um desflorar de emoções, suor em rodos, gritos, e vassouradas. Sim, meus caros leitores. Como já devem ter adivinhado, falo-vos do curling, esse grande desporto com "H" maiúsculo inventado na Escócia por volta do século XVII.


O torneio de Curling nestes Jogos decorreu muito rapidamente e de modo emocionante. O resultado, foi uma final com os favoritos, o Canadá, contra um outsider, os surpreendentes finlandeses. No entanto, depois de um torneio onde se distinguiram por um jogo táctico perfeito, marcado pela colocação milimétrica de pedras em pontos defensivos estratégicos, os finlandeses desiludiram na final, ao serem esmagados pelas pedras perfeitas dos canadianos, num desolador resultado final de 10-3.


Numa nota final, resta dizer que foi pena não termos visto neste torneio o grande Randy Ferby, um dos melhores curlers da actualidade. Randy, apesar de ser um skip, atira as pedras como um terceiro, estratégia que resulta com os seus colegas de equipa, mas que torna difícil que se adapte aos seus colegas de selecção nacional. Por outro lado, Randy é por vezes ultrapassado por colegas mais mediáticos, tendo por isso ficado de fora também dos Jogos de 2002. No entanto, é preciso dizer que poucos curlers têm um currículo como Randy, tendo jogado em 8 Briers, 6 Campeonatos do Mundo, 3 Taças Continentais, e ganho 2 Taças do Canadá. Além disso também é Representante de Vendas e Marketing para a Asham Curling Supplies. Também fazemos casamentos e funerais.


Randyferbey.jpg
  O grande Randy Ferbey

publicado por товарищ V. E. às 03:12
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