A crise atinge agora também meteorologistas desesperados em todo o mundo. E não os acusamos de desesperados levemente. A questão, é que com o caos no clima ao nível mundial, começam a faltar nomes decentes para furacões, ciclones, e tempestades tropicais em geral.
A prová-lo, temos a tempestade tropical Vince, que atinge agora a costa norte da Madeira e se dirige para a Europa. Ora "Vince", e pedindo desde já as minhas desculpas a quem baptizou a tempestade assim, e a quem teve a infeliz ideia de baptizar o seu filho assim, é nome de actor de filme de acção série "B", ou então de um daqueles criminosos tipo personagem secundária que se chibam à polícia com medo de ir dentro. Sim, realmente só mesmo em desespero um meteorologista daria este nome nem que fosse a um pé de vento.
Por essa razão, de futuro passamos a aceitar aqui no Blógue sugestões para baptizar futuras e destructivas tempestades tropicais.
Todo o país tem um prato típico, ou até mais, que são a sua bandeira. Representam o próprio país, são a essência, a própria alma do povo. Os italianos têm a pizza. Os espanhóis a paella. Os ingleses o fish n' chips, e os franceses o fillet mignon. Na Hungria, claro, o gulash. E por aí em diante, até ao pato à Pequim na China e o sushi no Japão. Aqui para os nossos lados, como é óbvio, também temos os nossos pratos típicos: a boa da dobrada à moda do Porto, a açorda de marisco, a caldeirada de borrego, o nosso cozido, é claro, e como não podia deixar de ser, o bacalhau, depois de seco e salgado, demolhado e dessalgado, consumido de todas as formas e feitios. Desde o famoso bolinho, ao à Brás, à Gomes de Sá, com natas, punheta do dito (do bacalhau, não do Gomes de Sá ou mesmo do Brás), cozido com todos, mais uma série de deliciosas receitas cujo nome não conheço, e milhares que nunca sequer provei. São estes os pratos, meus amigos, e devem concordar comigo, que fazem parte da nossa cultura e essência como povo. Que comemos porque os nossos avós já comiam, e os avós deles antes disso, e que estão firmes e hirtos na cultura do nosso país como o castelo de São Jorge com a bandeira nacional sempre erguida. Esta é uma fatia de portuguesidade imutável, que temos em nós, em oposição aos McDonalds que nos invadem.
Bem... E tudo isto é mentira. O povo napolitano porque a pizza é napolitana, e não simplesmente italiana aqui há 100 anos não comia pizza todos os dias, que toda a gente sabe que povo não tinha carninha e queijinho e azeitonas assim para desperdiçar. Talvez para o dia de anos do homem da casa, e já era um pau. E se um napolitano de século 19 visse uma pizza daquelas da telepizza com 3 tipos de carne e salame, mais extra queijo, mais pãezinhos de alho de oferta, caía para o lado. É facto conhecido que o mais comum, no sul da Itália, era uma pessoa do povo fazer o manjar de um pedaço de pão e um ramo de funcho, ou de aipo. Quanto aos nossos irmãos castelhanos terem como prato típico a paella, essa delícia originária da Catalunha, carregada de marisco, e do mais caro, contem-me histórias. Não era raro, não só em Espanha, mas em todo o sul da Europa, fazer refeição com algum pão e um alho francês. E além disso, quem nunca comeu uma tapa numa tasca de aspecto duvidoso em Ayamonte, que atire o primeiro calamar frito. O fillet mignon deve ser muito típico, os lavradores pobres do sul de França deviam comer bife com pimenta todos os dias, e duas vezes ao Domingo. Mas qualquer pessoa sabe que há cem anos, na Provença, o pequeno-almoço era pão molhado esfregado em alho mais azeite, e tava a festa feita. E sabemos que o pequeno-almoço, naqueles tempos, era a única refeição até ao jantar, que em França era sempre um caldinho de qualquer coisa ou outra. E igualmente, para os lados da Hungria, muita gente tinha que se contentar com um pãozinho e um pimento, manjar ainda hoje muito popular na região, que carne para gulash não era para toda a gente todos os dias.
Mas não pensem os meus caros leitores que o vosso amigo pataphisico_azul vos lança daqui um manifesto contra a nossa querida feijoada à transmontana, com doze tipos de carne fumada, ou qualquer outro prato "típico". Apenas vos digo que se um transmontano do povo nos anos '50 tivesse mais do que meia linguiça ao jantar, perguntava à aldeia toda qual é que era o feriado. E para mais, ainda ninguém me explicou em que é que a dita feijoada à transmontana faz parte da cultura de um alentejano, ou de um algarvio. Mas porque raio é que, nesse caso, a feijoada dessa linda região que é Trás-os-Montes (prato que, acrescente-se, quem nunca provou não sabe o que perde...), é considerada como sendo parte da alma do povo português? Então qual é o prato que é a alma do nosso povo? O que é que, era consumido pelos verdadeiros portugueses de há 50, 100 anos? A verdade, meus camaradas leitores, a boa verdade, é que este vosso pataphisico não sabe. Posso perguntar a muita gente, mas as respostas que vou ter vão ser variados exageros de como a sua infância foi terrivelmente difícil e de como nós jovens de hoje em dia temos tudo ao estalar dos dedos. Mas, meus bons amigos, se pensarmos no assunto dois segundos, afinal nós somos o que comia El-Rei D. João IV, o Suplente, ou aquilo que comemos hoje em dia? Sim, a alma do nosso povo será um prato esquecido (muito provavelmente porque não era grande coisa, ou não tinha sido esquecido) do tempo do mapa cor-de-rosa? Penso que a resposta é clara.
Então qual é essa iguaria que faz parte do dia-a-dia de qualquer português, do Algarve ao Minho, e até em Lisboa? Que encontramos em qualquer tasco rasca, quanto mais popular melhor? Que é apreciado nas maiores cidades e nas mais pequenas aldeias do país, e que também nunca falta nos snack-bar à beira da estrada, para os nossos camionistas e outros condutores não terem saudades de casa? Obviamente que de entre vós todos os que são verdadeiros portugueses, daqueles que cospem para o chão e deixam crescer a unhaca, já sabem do que estou a falar e estão agora a dizer «Foda-se, caralho, tava a ver que não!». Outros, aqueles que apenas cospem de noite no escuro quando ninguém está a ver, e sonham em como seria ter uma unhaca (também bons portugueses, mas tímidos...), já desconfiam, mas são tímidos para dizer. Os terceiros, que nem cuspir, nem unhaca, e mijar só na natureza, e de preferência no escuro, mas que se dizem grandes portugueses (porque só vestem camisas de fabrico português, só bebem vinho português, vão aos jogos da selecção, e penduraram uma bandeira nacional durante o Euro na janela, e ainda não tiraram...), acham que devo estar a falar de bife com batata frita e ovo a cavalo, ou então hamburger no pão. Mas de facto, e como vós, os verdadeiros portugueses sabeis, aquilo de que vos falo está tão entranhado na cultura portuguesa (ao contrário do que servimos aos turistas nos restaurantes caros) que até lhe podíamos arranjar um cantinho na bandeira.
Falo-vos, é claro, da sandes de coirato e da mini.
E foi a rubrica de culinária do pataphisico_azul por hoje. Para a semana, falaremos da secular receita russa, котлеты (kotleti), e da razão pela qual é conhecida no ocidente por Hamburger. Teriam os soldados russos na Grande Guerra assim tanta fome? Continue connosco e descubra...
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