Terça-feira, 19 de Abril de 2005

Os Blogs Apanascados

Mais uma vez, gostaria de me referir à obra publicada desse meu amigo, camarada, e companheiro de luta, e no fundo, desse grande artista plástico (mas não só, diria, artista de borracha e de metal) que é o acolito_espirita. O tema da nossa elevada tertúlia intelectual hoje será então, como o título desta posta indica, os blogs apanascados. A referência que gostaria de fazer é à posta de 26-9-2004 do meu caro camarada sobre Blogs Gays. A maioria do que ele disse acerca de blog gays aplica-se aos blogs apanascados, portanto aconselho uma consulta prévia aos nossos arquivos antes de continuarmos.


Devo agora dizer que gay não é exactamente o mesmo que apanascado, abichanado, ou, mais simples e directamente, paneleiro. A alegria de um blog gay desaparece quando encontramos autores de blogues que analisam o mais íntimo da alma humana, principalmente se essa alma humana tem uma profundidade de 3 cm. Os blogs paneleiros são, concerteza, blógues gays, mas não se limitam a isso. Eu diria até que enquanto entre os blógues de gajas podemos encontrar blógues gays, em 99% dos blógues apaneleirados escrevem homens (leia-se indviduos de sexo masculino, porque será discutível se serão merecedores do título de homens). Mas longe de mim, caros leitores, vir para aqui mandar bitoques para o ar sem dar um par de exemplos.


Vejamos o seguinte caso: encontrei-o enquanto me divertia a fazer passeios pelos blógues godos que lincamos ao lado, comentando um ou outro texto verdadeiramente elevado, com um comentário igualmente elevado. Ou uma merda assim, desde que não tenha cheiro. O que me chamou a atenção foi o nome com que assinava: Marco António. Por várias razões, até. Primeiro, Marco António e Cleópatra é uma das histórias de amor mais apaneleiradas da idade clássica. Não que seja uma história de amor, toda a gente sabe que a formosa rainha dava o seu nariz e o resto do corpo a que quer que ela achasse que lhe fosse dar mais poder. Mas Hollywood, e o seu principal argumentista, William Shakespeare, transformaram-na numa história de amor daquelas em que só mesmo língua, e mesmo assim com dedo para empurrar. Depois, chamou-me a atenção o nome deste antropiteco porque me lembrou o mais recente marido da artista latina Jennifer Lopez, Mark Anthony. Ora, não sei qual dos dois tem pior gosto. Ele escolheu uma miúda que parece saída do guetto espanhol de L.A. e com uma peida que dá a impressão que anda a ir ao McDonalds todos os dias há cinco anos. Mas ela, escolheu uma espécie de humanóide, uma criatura pequena, de um tipo que se acha superior, mais inteligente, mais atraente que os seres humanos (e na minha opinião, e provavelmente na dele, distingue-se destes). Este goblin que se pensa melhor que nós em tudo, na realidade só é superior ao ser humano como saco de box, ou para levar com tacos de baseball. É, assim, neste tipo de criatura que penso quando leio as linhas do seu blógue.


http://aprocuradacleopatra.blogspot.com/


Logo ao abrir, deparamo-nos com um cor-de-rosa que diz logo tudo, e sobre o qual nada mais vou dizer. Depois temos o cabeçalho, onde encontramos a merda sem cheiro no seu estado mais puro. São 68 palavras sem qualquer conteúdo, agregadas em três frases apenas pelo facto de serem "difíceis". Pois vejam uma amostra:


«Eis a razão de um simples e humilde cidadão que pretende apenas construir e enriquecer o pensamento, partindo do princípio basilar que só sei que nada sei. É só uma questão de Ser na sua simplicidade e não do Ter na sua complexidade.»


Reparem no pormenor de ele ter escrito Ser e Ter com letra grande, demonstrando assim a sua superioridade ao dar a conhecer que reconhece o peso filosófico dos termos. Depois temos o modo como se apresenta. Nada melhor do que, mais uma vez, mostrar:


«De mim nada sei, a não ser que nada sou neste Universo, apenas algo que passa pela intemporalidade e temporalidade existencial do Ser no tempo e no momento.»


Como podemos ver, temos aqui um filósofo da escola dos existencialistazecos. E, garanto-vos, até o Sartre (santo padroeiro dos esquerdistas), vomitava ao ler as regurgitações intelectuais deste. Reparem também no cursor original, que nunca falta nos blógues mais pirosos. O do nosso amigo indica a hora certa (não sei se de onde ele está ou onde o leitor está). Ou senão, convido os meus caros leitores a ler uma das minhas postas favoritas, as reflexões a que ele se deitou na bela tarde do já ido Domingo dia 6 de Março, chegando à conclusão de que «Nada tem sentido sem Nada», e «Portanto Nada existe sem Nada». Fiquei até surpreendido por a conclusão não ter sido "...Mãe-África... e assim acontece". Felizmente, a maioria das suas postas são, ou desenhos, ou poemas daqueles tipo "Concurso de poesia A Capital", que serviriam para músicas do Paulo Gonzo ou dos Toranja, se eles não fossem capazes por eles próprios de juntar uma data de palavras que rimem.


Mas não vos queria deixar apenas com um exemplo, até porque depois do quinto (verso, e não poema), percebemos que os poemas de Marco António são todos iguais. Outro dos meus blógues bicha preferidos é o de André Ferreira.


http://poemasamostras.blogspot.com


O nome é Poemasamostras (assim, pegado, para ser mais original), mas não tem poemas. O André tem concerteza sempre ao lado do computador um dicionário bem pesado da nossa cara língua, quase de certeza em vários volumes. As palavras que usa são num estilo diferente das do Marco António, ainda mais difíceis em si. Desconfio até que algumas delas nem sequer existem na nossa língua. Tomemos  de uma das suas postas o exemplo de "umbra". Poderia escrever "sombra", no mesmo lugar, mas assim toda a gente percebia... Quanto ao conteúdo das postas, discutimos aqui a essência do Universo (com letra grande), da pessoa humana, dos desgostos de amor, tudo em tom poético e com palavras difíceis. Vejam a minha preferida, curiosamente também desse produtivo dia de Domingo de 6 de Março: sobre uma doce ampunheta. «flor inconcreta», «ampunhetas doces o tempo era açucar», «atmosfera plúmbea». Sugiro que leiam mais, e verão como o André tem mais textos no mesmo tom, e muitos onde provavelmente estava ainda mais apaixonado pelo dicionário. Mas as surpresas não acabam aqui: se clicarmos no linque que leva ao perfil do André, vemos que ele mantém mais dois blógues: um chamado palavrasamostras, outro chamado poemastraducidos. Se palavrasamostras não faz sentido absolutamente nenhum, pois é apenas um clone de Poemasamostras, mas com textos diferentes (mesmo estilo, mesmo dicionário, tudo, mas outros), poemastraducidos é muito interessante, nem que seja para darmos uma boa gargalhada: é uma tradução para castelhano de algumas das postas de Poemasamostras. Podemos lá ler, por exemplo, "Ampuñetas Dulces". Mais hilariante ainda são as notas de rodapé, onde ele explica o que não consegue traduzir. André, se estiveres a ler isto, faz uma coisa: põe antes notas de rodapé nos teus blógues em português, porque as palavras incompreensíveis são muitas mais.


Mas analizemos mais em profundidade estas descargas gregóricas em forma verbal. Qual é a sua raiz e a sua aspiração? Porque tomam esta forma de filosofia da página de astrologia da TV 7Dias (a Maria já é de um nível mais elevado), ou até mesmo, quem sabe, da secção de telenovelas da TV Guia. Por exemplo, sendo o nosso amigo Marco António um existencialeco ainda pior que o Sartre, perguntar-se-à: quem sou eu? qual é o objectivo da vida? Ajudemo-lo. Um blógue abichanado, deverá ser escrito por uma bicha. Parecendo uma resposta demasiado simplista para a primeira das duas perguntas, é no entanto verdadeira. E isto aplica-se, obviamente, ao nosso caro amigo André e aos muitos outros blógue-panascas que por aí se encontram. No entanto, continua a ser uma resposta demasiado simplista. Mas quando eu olho para estes sites não vejo só letras, textos (e muitos desenhos, no caso do Marco António), postas. Vejo seres humanos com vontade de ultrapassar algo, de atingir um objectivo. Vejo criaturas que levavam nos cornos na primária, eram gozados no ciclo, tinham a mania que eram bons e não deixavam ninguém copiar por eles na secundária, e se apaixonaram pela melhor amiga na Faculdade de Letras ou de Humanidades, que foi comida por toda a faculdade menos por eles. Obviamente que, analisando isto de um ponto de vista Nietzsche-freudiano, que é o mais apropriado para este tipo de casos, desenvolvem um complexo de superioridade-inferioridade (superior porque têm a mania que são filósofos, e pior ainda, que isso vale de alguma coisa, e inferior, porque têm a mania que são uns coitadinhos, que ninguém gosta deles, que todos os desprezam... e temos que admitir que nisto têm alguma razão. Até a já referida melhor amiga só se digna a andar perto deles, por um lado por pena, e por outro para mostrar às amigas que não anda só com homens só para os foder e que também tem "amigos"). Não digo que seja uma fotografia exacta e cada um dos panascas que postam postas nestes blógues, mas é um estereotipo suficientemente aproximado. Sabemos já então quem são, mas para onde vão? Qual é o seu objectivo ao publicar as postas mais amaricadas de toda a blogoesfera e talvez de toda a web? Bem, para encontrar a resposta poderiamos fazer uma análise ainda mais aprofundada da sua personalidade, mas nem temos que ir mais longe. Olhemos só para o título do blógue do Marco António: "À Procura da Cleópatra". Atingimos então o elevadíssimo e erudito objectivo filosófico de caçar gajas. Como? Deixo falar vitinha_encarnacao, meu amigo, camarada, companheiro de luta, iluminado líder revolucionário e espiritual, fundador do Blog Anti Blogs, e um dos mais influentes teóricos revolucionários contemporâneos: «Admitam pah! A maior parte dos blogs é só uma tentativa de exaltação do ego de cada um, feita através de filosofias baratas e erudições tipo rua sésamo.» (vitinha_encarnacao, in Manifesto, Blog Anti Blog, 13-2-2004). E mais de metade das vezes, para engatar.

publicado por товарищ V. E. às 03:02
link do Manifesto | Debater | Adicionar ao Livrinho Vermelho
4 comentários:
De pataphisico_azul a 11 de Maio de 2005 às 23:59
De notar que o Marco António mudou de casa para Ao Encontro de Cleopatra: http://aoencontrodecleopatra.blogspot.com
De pataphisico_azul a 27 de Abril de 2005 às 03:01
Confundiste-me um pouco, mas se o que dizes é que os fãs de Chomsky partilham comigo a marca de after shave, enganas-te, pois eu não faço a barba. Assim à Engels.
De cabo martim a 25 de Abril de 2005 às 07:17
Caros amigos é a primeira vez que encontro um artigo (para além dos meus é claro), tão extenso, que me consegue prender até ao fim.
A veia satirica do autor é louvavel, espezinhando totalmente e acabando por deixar sem direito a defesa os autores dos blogs apanascados.
No entatnto, na mesma linha deste blogs, no que concerne ao ridiculo, encontramos as pseudo erudições de alguns fãs nº1 de Chomsky, que em comum com este autor partilharão talvez a marca de after-shave.
Vamos pois manter os olhos bem abertos, porque existem por aí mais tendências blog, que são autênticas seguras.
Um abraço a todos os autores deste execelente espaço e os meus parabens pela prosa agradavel.
De Acolito Espirita a 22 de Abril de 2005 às 08:23
Muaahahahahahha.

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